Notaste?
A rua neste inicio do mês, estava silenciosa, entrando em contraste com as cantigas de amor dos grilos, ao fazerem serenatas pelas telhas e muros de nossas casas. Felizes pelo fim do inverno, se uniam em procriação.
Do outro lado da rua, uma moça de vestido floral, caminhava pela estreita calçada, que dava para a lanchonete do Seu Joaquim, usando o mesmo perfume adocicado e sapatos, que rompiam com o silêncio da rua, junto com as vozes de alguns bêbados que por ali passavam, cambaleantes das pernas e das palavras, arrebatadas pela compreensão sonora.
Abri então a porta de casa. Ela dava para uma pequena praça, onde um casal de enamorados, encaravam-se antes das trocas de beijos, rompendo a solidão um do outro, aproveitando a ausência de vozes externas, para comporem seus desejos escondidos do mundo, sem ligar para a luz que emanava da porta entreaberta de minha casa.
O tempo que percorria para o esquecimento do sono, me fez observar no rapaz que caminhava sozinho. Senti vontade de entrar em casa, fechar a porta e esperar ele passar, cruzar a esquina, para assim poder voltar a observar a rua. Entretanto, permaneci onde estava, ao ouvir o rapaz, que gritou do outro lado da calçada (Notaste??) prosseguindo seu caminho com passos largos de uma pequena multidão.
Sorri por alguns segundo pensando: Por certo deve ser apenas mais um bêbado. Mal sabia eu, que aquele instante, seria por mim eternizado. Logo em seguida, entrei em casa em decorrência dos olhos pesados, cansados dos prelúdios de amor, tão bem guardados pelo silêncio da rua.
Dias e noites nasciam e morriam, impenetráveis em meu olhar fixo para a parede branca da quarto, chamada tédio. Senti saudade do silêncio daquela noite, que ainda flutuava em minha mente, queimando feito poema de poeta nas ilusões e amarguras de um amor secreto, no barulho do seu próprio eu. E assim, adormeci mais uma vez sem notar que a rua continuava linda, sem ligar para as minhas confissões.
Poema de: Doracy Montenegro-Alagoinha-PB
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